“Certo dia sem palavras ele disse que a amava, foi assim: ele chegou, recostou no peito dela, olhou-a nos olhos, falou-lhe de muitas coisas, e sem qualquer aviso tirou do peito uma caixinha (que ele chama coração) e dela uma lágrima... um beijo.”
Era bem assim: ela crescia aos poucos, sempre necessitada dos cuidados e atenção alheios e naquilo que a sustentava (acredito eu que os sentimentos. Até hoje é um pouco confuso para mim) ela trazia espinhos e em meu estudo tenho quase a absoluta certeza que eles não eram para machucar ninguém, mas para defênde-la das pragas, de quem quisesse a tirar do chão. Ela sempre foi mais terra, embora sua cor sempre tenha sido um azul esbranquiçado que se você deitasse a seu lado e olhasse a cima, ela e o céu se tornariam um.
Ele já nasceu caindo do ninho, sempre tão independente, asas fortes, peito cheio somente de ar e um bico que quase nunca falava. Suas plumas eram cor de cimento com um tom esverdeado em algumas partes. Voava todo dia sem dizer aonde ia, mas voltava, sempre; Para o sossego da mãe até o dia seguinte. Pousava somente em seu galho, discreto, observador, calado.
Ver aqueles dois sentados na beira da calçada em frente a casa dela era justamente enxergar isso aí: uma flor de terra que vê o passáro-ar partir e não tem controle nem força pra pedir pra ele ficar; muito menos a garantia de volta. Mas quem nasce flor, nasce pra se abrir e foi exatamente isso que ela fez quando ele disse que estava indo, que necessitava voar um pouco, afinal, fora feito no céu, raízes no ar, disse que tomaria cuidado e que se sentisse vontade, voltaria.
Eu vi a flor murchar e é tão triste quando isso acontece. A cor fica fosca, os espinhos ganham vida e ela se volta mais ainda ao chão. Deixa de ter a cabeça, os sonhos voltados ao céu e se fixa em suas raízes de mármore e poeira. Eu vi a flor murchar e o pássaro suspirar de dor. Por um momento eu ri sozinha, pensando: Mas, meu Deus, como pode um pássaro se apaixonar por uma flor e vice-versa?
E Ele me deu a resposta logo adiante. O pássaro bicou a pétala da flor, tirando dela um pedaço; colocou o pedaço ao chão, bicou o próprio peito e no lugar desfalcado da pétala, ele deixou a pluma. Então pegou sua lemrança azul esbranquiçada, guardou no peito e levantou vôo. Ela continuou sentada ali durante um tempo, olhos fixos ao chão, a pluma passando de mão em mão e então deu um sorriso e olhou pra cima, como se tivesse a certeza de que de lá ele a veria.
Isa G.
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